Um brinde ao Manga com Leite!

Comer manga com leite causa indigestão e pode ser fatal. Será?

Essa crença surgiu na época da escravidão. Os senhores de engenho criaram o mito para impedir que seus escravos não comessem as mangas e nem tomassem o leite de sua propriedade. A invenção caiu no consenso popular e permanece até os dias de hoje. Desde crianças ouvimos crenças e histórias passadas de geração a geração e muitas vezes não nos questionamos sobre seu real sentido.
Com a profissão de Relações Públicas acontece a mesma coisa. A área fica presa a discussões “clássicas” e a conceitos importados de outros países que não a levam a rumo nenhum e muitas vezes não condizem com a realidade brasileira. O medo que muitos têm de não passar por cima dos “conselhos da vovó” faz com que a prática das Relações Públicas caia no senso comum, não busque novos caminhos, não considere teorias relevantes e nem o contexto sócio-histórico em que se encontra.

Por isso, o Manga com Leite. Aqui desconstruiremos as normas pré-estabelecidas da profissão e buscaremos novas e polêmicas concepções para debate que levem a uma mudança de consciência do profissional de Relações Públicas. Esperamos que a comunidade de RP se interesse pelo blog e participe conosco das discussões.

Obrigada e uma batida de manga com leite para todos!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

rp = festinha??????

Apoio. Cerimonial. Eventos. Patrocínio. Preciso de uma faculdade pra fazer isso? Por que você pensa que é o relações públicas quem faz esse tipo de coisas? Qualquer um é capaz de fazer isso, é só ter um pouco de simpatia misturado com um pouco de jogo de cintura! É a mesma coisa quando me dizem que eu tenho que ser mais falante e mais extrovertida, já que estou fazendo RP. Por acaso faço relações públicas ou relações sociáveis?

É revoltante quando fazem esses tipos de comentários ou quando me pedem esses “favores”, é ainda mais revoltante quando uma própria estudante de RP me disse que entrou pro curso porque “adora organizar eventos”, mas tudo bem. O que me conforma é que ela ainda está no primeiro semestre e vai aprender que não é nada disso. Ela pode demorar, mas um dia vai entender o que realmente significa essa profissão. Ela vai... mas e a minha mãe?

É bem difícil pra ela e pra muitos outros entenderem essa “nova” profissão. Primeiro porque as relações públicas não têm uma única definição, não tem uma única frase que eu possa atribuir para o que eu vou exercer. Isso às vezes me dá uma certa insegurança...

O fato de raras pessoas quererem seguir a área acadêmica também contribui. Acredito que 99% da minha sala não pensa em um dia ministrar aulas de relações públicas em alguma universidade. Então como ter uma visão mais contemporânea sobre a desenvoltura do profissional no atual contexto sendo que nossos professores apresentam as mesmas matérias há pelo menos confirmados 10 anos (isso se não forem muitos mais)?
Cadê o empreendedorismo? as inúmeras novas tecnologias? a famosa dialética?
Mas isso foi mais um desabafo, que com certeza é algo que todos já pensaram e se perguntaram.
E então, o que podemos fazer?
Ellen Suzuki

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


Egoístas! Será?

Não vamos nos prender a discussões clássicas, nem a debates que não levam nada e ninguém a lugar nenhum...

Impressionante! Essa temática tem percorrido a maioria dos blogs e discussões (às vezes ao pé da letra) dos colegas de sala. A impressão que tenho é que muitos dos alunos de RP estão mesmo cansados de falar, falar, falar, ouvir, ouvir, ouvir, e não chegar a nenhuma solução, nem sequer a uma conclusão.
À primeira vista, todas as discussões parecem tomar o rumo do “lugar nenhum”, mas observando com mais atenção, não é o que parece acontecer. A diferença está na demonstração de tal cansaço de alguns alunos e profissionais e na tentativa de desconstruir conceitos jogados nas nossas fuças ou inspirados no estrangeiro (como diria nossa amiga Thaís).
Pode parecer egoísmo de minha parte, mas fico muito feliz com tudo isso, já que também não agüento mais passeios em círculo em torno das Relações Públicas.
No entanto, sejamos realistas! Penso, ou pelo menos espero, que todos saibam que somente desconstruir não basta. É claro que este é o primeiro passo, mas sugiro que andemos logo para o segundo, antes que toda essa a demonstração de cansaço destruição de conceitos tornem-se mais discussões clássicas e debates que não levam nada e ninguém a lugar nenhum.

Flávia Zago

domingo, 7 de outubro de 2007

RP empresarial mais uma vez?


Um tombo do pé de manga.

Por que a maioria dos profissionais só enxerga o RP como um comunicador empresarial? Por que até dizem “comunicação organizacional”?

De verdade? Chega de brincar de RP. Agora vamos falar sério.

O contexto socioeconômico do surgimento de uma profissão, é claro, diz muito sobre sua função e a atuação do seu profissional. O fato é que a realidade brasileira foi muito distinta da realidade de efervescência política, econômica e social vivida nos Estados Unidos quando do surgimento das Relações Públicas. Tudo isso, lógico, faz toda a diferença. Aprendi isso com um texto do Júlio Pinho.

Nos Estados Unidos, terra do Tio Sam, a profissão nasce como resultante da organização do movimento sindical e suas ideologias marxistas. Era uma época de intensa mobilização dos grupos sociais, do fortalecimento da opinião pública. E aí, cai do céu a figura do RP. O cara capaz de administrar os conflitos com a opinião pública. Uma briga só para conquistá-la e amansá-la. O RP como um verdadeiro domador.

No Brasil, terra do Carnaval, as RP importadas surgem com um pé na administração pública. A bola da vez era fazer campanha dos órgãos públicos. E Vargas e o DIP sabem bem disso. Era só conceito e imagem, imagem e conceito do governo.

Mas e aí? Aí que nesse pedaço brasileiro do mundo das Relações Públicas é como se tudo se resumisse à comunicação da empresa com o público interno, externo, misto e com a imagem de empresas e pessoas. É essa história de imagem percorrendo as décadas...

E a tal da função política das Relações Públicas? (Boas vindas ao Porto Simões!) Acho que todo mundo matou essa aula. Cadê a proposta de diálogo e consenso entre os interesses conflitantes? E não me venham falar de “conflito” com o RP na empresa ouvindo e atendendo os funcionários! Ou será que todos esquecem que a mesma mão que contratou os funcionários também contratou o RP? É muito difícil entender a qual interesse o RP serve dentro de uma empresa?

Aqui, as RP não vinculadas às práticas democráticas, às questões políticas e sociais, acarretam uma crescente subutilização da profissão. Isso tudo do ponto de vista de uma futura RP angustiada e em crise profissional. No caso, eu!

A gente estuda Antropologia Cultural, Teoria Política, Planejamento Participativo, Realidade socioeconômica e política brasileira, Psicologia, Sociologia (e aprende até da indústria cultural!), Ética, Economia, Filosofia...pra quê? Pra saber como fazer um público comprar um produto? Pra deixar a empresa como boazinha depois de degradar o meio ambiente? Pra gerir uma crise e continuar fazendo lucro pra empresa? Tudo bem, tudo bem...Eu sei que tem Marketing também. Mas eu não consigo ficar conformada com essa atuação depois de assistir ao documentário “The Corporation”. Você consegue? É conformismo mesmo ou só enxergar a realidade?

Concordo que há uns bons tempos a profissão vem tratando das grandes questões contemporâneas. Tem RP que se preocupa com os movimentos sociais, com as ONGs, com as políticas públicas, com o governo, com a participação da sociedade civil etc. E acredito que as coisas devam caminhar por aí mesmo.

Sem hipocrisia. Claro que dá pra trabalhar em empresas e boa sorte se sua vontade for essa! Mas tem tanta coisa ainda pela frente que dá pra ser resolvida por um RP com dialogicidade de verdade, ou será que eu estou criando uma ideologia da profissão?

Enfim...Dá pra alguém olhar pros verdadeiros problemas do mundo um pouco? Ou só pros do Brasil então? Que tal diagnosticar a realidade brasileira antes de se formar?

Chega de empresa, empresa e empresa...

E aí eu subo no pé de manga outra vez.


Thais Marin


Para saber mais, consulte o texto “O CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS” de Júlio Afonso Pinho, no endereço: <http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/cd3/rp/juliopinho.doc>.

Comunicólogo como um educador. Você já parou para pensar sobre?

Abro minha discussão esclarecendo que o que será abordado e discutido agora pode ser pensado, analisado e aplicado em diversos âmbitos de atuação do profissional de Relações Públicas. Vale a pena voltar a uma certa indigestão que eu mesmo levantei na primeira postagem desse blog, a questão de “anular o sujeito da sua própria história”.

A atuação de um Relações Públicas, como comunicador deveria levar em questão o fator educativo da comunicação, uma educação comprometida com transformações que envolveria a realidade e o contexto no qual está inserido. Educação é comunicação, não apenas como transferência de saberes, mas como diálogo, como troca de saberes, como problematização do próprio conhecimento. E esse conhecimento só se constrói na relação homem-mundo, em que o homem sendo apenas passivo desse processo não desenvolveria relações de reflexão, de crítica, ou melhor, de transformação.

Na minha perspectiva apropriada à educação, atribuiria aos profissionais da área que enxergassem como a humanização do homem, de propor ao ser humano questionar-se e se questionar em relação ao mundo. Porém, esse aspecto discutido só pode ser aplicado em um ambiente a partir do momento em que se conhece a visão de mundo dos sujeitos, para que, dessa forma, não haja confronto na sua totalidade.

Finalizo deixando uma reflexão para nós profissionais de Relações Públicas: Em algum momento vocês pararam para pensar em desenvolver um trabalho de comunicação pensando no ser humano como construtor e sujeito da sua própria história? E mais. Em algum momento vocês pararam para refletir sobre o aspecto de além de comunicador ser um educador? Alguma vez você pensou em trabalhar essa questão ao invés de se preocupar com a comunicação interna ou externa, ou mesmo com os meios de comunicação, de qual seria mais apropriado para esse outro tipo de público?

Antes dessa reflexão, acredito que deveríamos para tal analise dar um passo para trás, com o intuito de sairmos do contexto o qual estamos inseridos para que pudéssemos analisar, refletir, criticar e claro, transformar.

Obrigada

Tania Russomano