Um brinde ao Manga com Leite!

Comer manga com leite causa indigestão e pode ser fatal. Será?

Essa crença surgiu na época da escravidão. Os senhores de engenho criaram o mito para impedir que seus escravos não comessem as mangas e nem tomassem o leite de sua propriedade. A invenção caiu no consenso popular e permanece até os dias de hoje. Desde crianças ouvimos crenças e histórias passadas de geração a geração e muitas vezes não nos questionamos sobre seu real sentido.
Com a profissão de Relações Públicas acontece a mesma coisa. A área fica presa a discussões “clássicas” e a conceitos importados de outros países que não a levam a rumo nenhum e muitas vezes não condizem com a realidade brasileira. O medo que muitos têm de não passar por cima dos “conselhos da vovó” faz com que a prática das Relações Públicas caia no senso comum, não busque novos caminhos, não considere teorias relevantes e nem o contexto sócio-histórico em que se encontra.

Por isso, o Manga com Leite. Aqui desconstruiremos as normas pré-estabelecidas da profissão e buscaremos novas e polêmicas concepções para debate que levem a uma mudança de consciência do profissional de Relações Públicas. Esperamos que a comunidade de RP se interesse pelo blog e participe conosco das discussões.

Obrigada e uma batida de manga com leite para todos!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ser RP é ser profissional?


Já que as últimas postagens do Manga com Leite têm levantado as angústias e dúvidas da iminente vida profissional e até questionado o que é realmente ter uma postura profissional, opto por continuar nessa linha de discussão, que penso ser tão saudável e necessária a essa altura da nossa trajetória acadêmica.


Recentemente lembrei-me de um texto de Paulo Freire que trata do compromisso do profissional com a sociedade. Transplantando as idéias do autor para a realidade das Relações Públicas, será que nós, futuros RPs, quase ex-unespianos, temos algum compromisso com a sociedade?


Antes de sermos profissionais, somos seres humanos! E seres humanos devem comprometer-se por si mesmos. E isso não sou eu que digo, é o Freire.


Só pode comprometer-se com algo quem reflete sobre si e sobre o mundo e AGE. Quem não reflete não transforma nada, e menos ainda marca espaço dentro da profissão. São esses que, na situação concreta, se encontram convertidos em “coisas”. O profissional deve somar ao seu compromisso humano, o novo compromisso profissional. E esses não podem ser contraditórios, mas complementares. Assumimos nosso compromisso profissional desde que escolhemos fazer-nos profissionais.


E o que tudo isso quer dizer, afinal?


Faz sentido eu, enquanto ser humano, me solidarizar com a pobreza brasileira e achar que algo tem que ser feito para mudar essa realidade, mas, enquanto profissional, me afundar na minha carreira enchendo os bolsos e rindo à toa e só tendo contato com essa pobreza na televisão ou na revista alternativa? É a tal da práxis.


Quem se compromete com a desumanização, assume pra si a desumanização.


Não nos esqueçamos que mesmo trabalhando em uma multinacional alemã, inglesa ou norte-americana, ainda habitamos um país de economia periférica e dependente, que importa mercadorias e idéias. Esquecer (ou deixar de lado) essa realidade é assumir pra si a não-autonomia da própria vida. É reproduzir essa dependência e, pior, é querer ser dependente enquanto Relações Públicas, enquanto profissional.


Infelizmente, pra muitos isso tudo não fará o menor sentido e pode soar como demagogia. Tudo bem, eu ainda respeito as diferenças, já que aprendi que “ninguém pode fazer xixi pelo outro”.


Para terminar, o texto do Freire traz uma pergunta brilhante que deixo aqui para reflexão: quem pode comprometer-me? Penso que essa é a faca de dois gumes para toda a discussão do ser profissional. Uma dica: “Estou cego. Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é possível, apenas de relance, os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana” (Ensaio sobre a cegueira – José Saramago).


O texto “O Compromisso do Profissional com a Sociedade – Paulo Freire” pode ser consultado na íntegra em: <http://www.enecos.org.br/xiiicobrecos/arquivo/htm/036.html>.



Thais Marin

2 comentários:

Anônimo disse...

“Nós temos a responsabilidade de fazer um casamento. Um casamento entre o conhecimento intelectual da Universidade e a miséria. Não reforçar o casamento incestuoso entre o poder acadêmico e o poder econômico.” (Leonardo Boff, 2003).
Leonardo Boff é professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Anônimo disse...

Eu, Val, Flá e Marcela apresentamos ontem um trabalho que me deixou muito reflexiva. Era para a disciplina de Realidade SócioEconômica Política Regional e abordamos as questões das diferenças entre as grades curriculares do curso de RP em entidade pública (unesp - bauru) e particulares (cásper líbero - são paulo), uma acadêmica e outra mercadológica. E para tanto, vimos que o próprio conceito de universidade pública é de formar cidadãos, com valores culturais e políticos, com embasamento nas ciências humandas. Daí venho e leio esse post que me deixa ainda mais em um empasse: toda a minha formação leva para essas questões sociais, mas a própria profissão de RP nasceu a pedido desse capitalismo. E outra questão, o próprio ingresso nas unversidades públicas é elitzado, mas em "um ambiente para discussão de valores, ressaltando a projeção que isso poderá vir a ter na construção do país"? entendeu o meu conflito interno?