Um brinde ao Manga com Leite!

Comer manga com leite causa indigestão e pode ser fatal. Será?

Essa crença surgiu na época da escravidão. Os senhores de engenho criaram o mito para impedir que seus escravos não comessem as mangas e nem tomassem o leite de sua propriedade. A invenção caiu no consenso popular e permanece até os dias de hoje. Desde crianças ouvimos crenças e histórias passadas de geração a geração e muitas vezes não nos questionamos sobre seu real sentido.
Com a profissão de Relações Públicas acontece a mesma coisa. A área fica presa a discussões “clássicas” e a conceitos importados de outros países que não a levam a rumo nenhum e muitas vezes não condizem com a realidade brasileira. O medo que muitos têm de não passar por cima dos “conselhos da vovó” faz com que a prática das Relações Públicas caia no senso comum, não busque novos caminhos, não considere teorias relevantes e nem o contexto sócio-histórico em que se encontra.

Por isso, o Manga com Leite. Aqui desconstruiremos as normas pré-estabelecidas da profissão e buscaremos novas e polêmicas concepções para debate que levem a uma mudança de consciência do profissional de Relações Públicas. Esperamos que a comunidade de RP se interesse pelo blog e participe conosco das discussões.

Obrigada e uma batida de manga com leite para todos!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

RP harmoniza relações?

Harmonia social. Um dos objetivos do profissional de Relações Públicas é harmonizar as relações? Mas o que significa harmonia no modo de produção capitalista? Não é a primeira vez que me pego pensando e analisando de um modo crítico essa definição da profissão de Relações Públicas encontrada em diversos livros de autores da área. Diante disso, para dar início a essa discussão acredito que o exercício do profissional no mundo globalizado contemporâneo não pode deixar de lado sua contextualização histórica. A profissão nasce no processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista em que há dois eixos em contradição: de um lado aqueles que detêm o poder político e econômico e de outro aqueles que vendem sua força de trabalho. Nesse contexto de classes sociais distintas, a desigualdade marca as relações. Na atualidade, o modelo de produção capitalista que segundo Milton Santos é alimentado por um doutrinamento para o consumo, regulador das relações sociais e gerador da competitividade como regra absoluta ainda é evidente a presença dessas relações antagônicas entre as classes sociais. Sendo assim, de que maneira um profissional de Relações Públicas terá como objetivo harmonizar (conciliar) relações se no próprio contexto em que ele está inserido não há uma disposição ordenada das classes. O profissional de Relações Públicas em nenhum momento deve se dispor a tentar conciliar as relações, pois, dessa maneira, estaria anulando o sujeito da sua própria história. O exercício das Relações Públicas é fazer mediações, gerir conflitos, ou seja, ser um gestor da comunicação. Portanto, finalizo minhas contribuições por aqui tentando fazer uma reflexão sobre como desconstruir algumas normas pré-estabelecidas da profissão que é o intuito do nosso blog.

Tania Russomano

Um comentário:

Arlindo Rebechi Jr. disse...

Como primeiro comentário, digo que a proposta é bastante ousada. Não indigesta, porém. Confesso que pode se tornar um grande pólo de discussão, sobretudo para se pensar as realizações de cada um dentro do curso até o momento. O que acham?
Quanto à postagem da Tania, considero bastante digna e de difícil solução teórica. Não é exagero falar que é possível escrever uma tese sobre o assunto. Talvez você tenha pegado na ferida - por sinal aberta - dos estereótipos das pseudo-teorias vigentes. "Harmonizar" sempre é forçar a nota, dentro destes novos contextos.
Não só para Tania, mas a todos, fica um trecho para ser melhor explicado ou desenvolvido: "O profissional de Relações Públicas em nenhum momento deve se dispor a tentar conciliar as relações, pois, dessa maneira, estaria anulando o sujeito da sua própria história". Certamente, ele vale a indigestão de alguns.