Um brinde ao Manga com Leite!

Comer manga com leite causa indigestão e pode ser fatal. Será?

Essa crença surgiu na época da escravidão. Os senhores de engenho criaram o mito para impedir que seus escravos não comessem as mangas e nem tomassem o leite de sua propriedade. A invenção caiu no consenso popular e permanece até os dias de hoje. Desde crianças ouvimos crenças e histórias passadas de geração a geração e muitas vezes não nos questionamos sobre seu real sentido.
Com a profissão de Relações Públicas acontece a mesma coisa. A área fica presa a discussões “clássicas” e a conceitos importados de outros países que não a levam a rumo nenhum e muitas vezes não condizem com a realidade brasileira. O medo que muitos têm de não passar por cima dos “conselhos da vovó” faz com que a prática das Relações Públicas caia no senso comum, não busque novos caminhos, não considere teorias relevantes e nem o contexto sócio-histórico em que se encontra.

Por isso, o Manga com Leite. Aqui desconstruiremos as normas pré-estabelecidas da profissão e buscaremos novas e polêmicas concepções para debate que levem a uma mudança de consciência do profissional de Relações Públicas. Esperamos que a comunidade de RP se interesse pelo blog e participe conosco das discussões.

Obrigada e uma batida de manga com leite para todos!

domingo, 23 de setembro de 2007

RP herói ou “Você discorda?”

Eu, definitivamente, cansei.

Não com tanta ênfase como dei na frase, mas cansei sim. Cansei daquelas eternas discussões que todo estudante de Relações Públicas (tudo bem, o “todo” é mentira. A gente sabe que grande parcela dos RPs nunca pararam pra pensar nisso) já discutiu em algum momento da sua vida: o que é, na verdade, a atividade de Relações Públicas?; faz diferença ser formado em uma faculdade pública ou particular?; o estudante da faculdade pública tem que se dedicar ao “social’ pra devolver à sociedade o seu “investimento” nele?; como ligar a teoria às técnicas?; o que o mercado deseja de um RP? etc.

E muitos outros blá blá blás que são essenciais, mas que pensados de modo cartesiano, maniqueísta e sem qualquer embasamento não levam a lugar algum. Mas, como boa teimosa, eu continuo a querer discutir essas mesmas e desgastadas questões. Um dia alguém muda de idéia (ou de profissão...).

É fato que não há uma consciência de categoria entre os profissionais de RP. E isso fica comprovado quando esses mesmos profissionais vão a encontros, congressos e seminários e palestram sobre sua própria experiência mercadológica. Até aí, tudo lindo! Mas quando a discussão começa a partir pras raízes da profissão, pra sondar seu real significado e importância, cada um foge pro seu lado. Todos ficam presos ao seu mundo de trabalho, às suas razões que servem de guia no dia-a-dia e não se abrem a novas idéias, não se questionam se o que fazem é realmente ético (“Eu trabalho lá, é claro que minha empresa é ética!”) e não ficam frustrados em falar que seu cargo na empresa X é “Assessor de Comunicação” ou “Assessor de Marketing” ou “Gerente de Comunicação” ou “Assistente de Propaganda” e muitos outros ous que não ajudam a fortalecer a categoria e a atividade, que, aliás, é RELAÇÕES PÚBLICAS!

Se a própria categoria não se garante, o que será de concordar nas reais áreas de RP?

E essa discordância (ou uma concordância generalizada e superficial) é fácil de se encontrar em muitos TCCs (salvo umas boas grandes pesquisas), onde o RP sempre salva o mundo. Em qualquer lugar onde haja um problema, chame um RP! Ele e suas estratégias de comunicação vão fazer seu negócio bombar! É como se todos os problemas se resumissem à comunicação. Isso é não enxergar o “todo”, não enxergar o processo de construção de identidade em qualquer instituição. E disso decorre um endeusamento maníaco da profissão. Muitos estudantes (e eu me incluo nisso) acreditam que estão fazendo o melhor curso do mundo, pois, afinal, o RP sempre dá um jeito em tudo, ele é o grande solucionador. Na na ni na não! Esse RP herói é conseqüência de uma não essência da profissão. Todo mundo faz RP e cada um faz do seu jeito, cada um acha uma coisa e ponto final, e assim tudo passa.
Ontem, tive o privilégio de presenciar em uma palestra no I ERERP – Encontro Regional de Estudantes de Relações Públicas, uma das componentes da mesa dizer: “A diferença está na construção”. Exatamente! Bingo!

Pensando isso na formação, você pode obter sua graduação na Unesp ou na Fafofipa, você vai ter o título de RP do mesmo jeito. A diferença é o caminho percorrido até a conclusão da sua formação.

Discutir as diferenças de faculdades públicas e particulares não é tarefa tão simples. Vale lembrar o papel da universidade pública na sociedade, o papel do governo, o papel do homem como cidadão e uma pancada de papéis mais. É claro que cada ser humano vai decidir a área em que deseja atuar, afinal, ele não é o sujeito de sua própria história? Entretanto, o ponto crítico é esse “sujeito” não se esquecer de que está inserido em uma sociedade e que é parte dela, que a constrói ao mesmo tempo em que é construído por ela. E aí, é óbvio, que sua atuação faz toda a diferença pro seu entorno social. Você passou no vestibular a duras penas e agora quer gozar da faculdade e ganhar uma bolada de dinheiro em uma multinacional? Ótimo! Só não se esqueça de três perguntinhas básicas: quem paga a sua conta?; quem fala pra quem nessa organização? e como ela afeta a comunidade e você?

E quando se fala em responsabilidade social? Ahh! Socorro! Pra mim as coisas são simples. São três pontos distintos que se confundem entre as discussões: 1-o papel do homem como cidadão, como ser que participa e contribui; 2-o estudante de universidade pública, que pela construção histórica da própria universidade, é encaminhado a desenvolver pesquisas que, de algum modo, contribuam para a sociedade (mesmo que seja pesquisar o quanto um comercial de cerveja ou uma marca qualquer influenciam as pessoas) e 3-o Relações Públicas que, dentre as áreas de atuação, e com seu papel ético, realiza, constrói e pesquisa atividades de responsabilidade social e não de assistência social. Mas eu deixo toda essa discussão para uma próxima postagem...

E, por amor às rugas dos bons teóricos, teoria e prática andam juntas! A famosa “teoria” é, no limite, refletir sobre sua atuação, questionar o seu por quê, buscar embasamento pra atividade e não se debruçar sobre “O Capital” (em alemão!) e ler até criar barba feito o Marx! A regra é fácil: não vale reproduzir. E, sim, produzir. Mesmo que a produção seja um emaranhado de outras produções. (Eu não acredito em imparcialidade mesmo...) A regra é: pense sempre! Aliás, o estudante está na universidade pra aprender a pensar e muitos demoram pra descobrir isso ou nunca descobrem. Como ouvi uma vez: “a universidade é o momento de você experimentar, testar, questionar o seu conhecimento (boa!), pois no mercado ninguém tem tempo pra isso”.

Sinceramente? Parodiando o velho Vanderbild, “o mercado que se dane!” Tá, vou deixar a revolta de lado. Mas que fique claro que quem faz o mercado são as pessoas! (Salvo o poder das verdinha$$$) Atrás das grandes empresas e corporações existem pessoas. Sim, de carne e osso! Como eu e você! Lindo isso.

Ufa!

Reclamei, reclamei e reclamei. Você discorda? Acha que eu só falei abobrinha? Perfeito! Essa é a idéia! Eu apenas contei a minha leitura das Relações Públicas e seus contornos. Agora conta a sua! O conhecimento se constrói na dúvida e não nas certezas, vamos construí-lo então!

E, por hoje, chega.

Obs: E que fique certo que o meu “Cansei” é completamente diferente do Movimento Cansei da Praça da Sé. Eu, de verdade, tenho pequenos motivos pra estar cansada.

Thais R. Marin

4 comentários:

COMfabulando RP disse...

Muito bom Thatá! Adorei!
São tantas coisas que você coloca em questão que nem sei por onde começar. Bom, vamos a uma delas: sabe a questão dos congressos, encontros, palestras e afins? Pois bem, alguém acha(como eu) que, além do fato da “nomeação” desses profissionais ser tudo, menos RP(salvo exceções), muitos deles falam, falam, faaaaalam....e não dizem nada de interessante? Calma gente, não tô achando que eu sou f***, sei de tudo e que profissionais de RP de empresas conceituadas no mercado só falam besteira e não sabem fazer as Relações Públicas! Não...não é isso...é só que eu, como aluna do 3ºano, não tenho mais ânimo de encarar alguns eventos porque sei que lá só vou ouvir falas do tipo “ Um RP tem que fazer uma excelente comunicação entre seus diversos públicos”, “ Quando a empresa teve aquela crise X, Y ou Z nós nos programamos e conseguimos contornar de maneira que ninguém mais se lembra do fato!” Mas....como??? Como obter essa excelente comunicação? Como eles contornaram essa crise? Tá bom... estamos na universidade para aprender tudo isso e temos que ter a capacidade de gerar idéias novas para essas ações. Ok, mas ninguém pode dar um exemplo? Ninguém pode citar uma estratégia que valha a pena ser compartilhada com os colegas da profissão?
Sei lá...talvez esse seja um dos casos em que a teoria não ande junto com a prática.
Laura

Anônimo disse...

Uallll! Parabens thais!!!
hahahhahaha olha isso... minha antiga amiga de classe de ingles engajada com sua faculdade e com a comunidade! Mó orgulho hhahaha!voce ta escrevendo mó bem! Em relação ao curso de relaçoes nao sei muito bem e nem vo opinar, mais achei bem legal oque vc disse: q na faculdade é a hora que devemos aprender a pensar e devemos experimentar tdo para colocarmos na pratica qdo estivermos realmente no mercado de trabalho!
bjao!

Arlindo Rebechi Jr. disse...

Acho que uma série de colocações suas - por mais desabafo que seja - são pertinentes para o nosso momento de reflexão. Acho, porém, que você deva pensar em textos mais curtos. Pense que é um blog. Concordo com Laura também sobre esta "falação" desinteressante (eventos etc). Acho essencial a falação, mas aquela inteligente e profícua para nossa formação. Só esta poderá levar todos a uma reflexão mais ampla e aguda de nosso momento histórico.

Jessica disse...

bom depois de frequentes ameaças de morte achei melhor comentar esse texto ... hehehehe brincadeira

na verdade adorei oq vc escreveu alias o grupo inteiro esta de parabens. Textos criticos e q nos fazem pensar sobre os problemas de nossa profissão e termos crises mas de forma moderada...

NADA DE PÂNICO...

bom é isso por enquanto

Atenciosamente
Jessica Bodê