Eu, definitivamente, cansei.
Não com tanta ênfase como dei na frase, mas cansei sim. Cansei daquelas eternas discussões que todo estudante de Relações Públicas (tudo bem, o “todo” é mentira. A gente sabe que grande parcela dos RPs nunca pararam pra pensar nisso) já discutiu em algum momento da sua vida: o que é, na verdade, a atividade de Relações Públicas?; faz diferença ser formado em uma faculdade pública ou particular?; o estudante da faculdade pública tem que se dedicar ao “social’ pra devolver à sociedade o seu “investimento” nele?; como ligar a teoria às técnicas?; o que o mercado deseja de um RP? etc.
E muitos outros blá blá blás que são essenciais, mas que pensados de modo cartesiano, maniqueísta e sem qualquer embasamento não levam a lugar algum. Mas, como boa teimosa, eu continuo a querer discutir essas mesmas e desgastadas questões. Um dia alguém muda de idéia (ou de profissão...).
É fato que não há uma consciência de categoria entre os profissionais de RP. E isso fica comprovado quando esses mesmos profissionais vão a encontros, congressos e seminários e palestram sobre sua própria experiência mercadológica. Até aí, tudo lindo! Mas quando a discussão começa a partir pras raízes da profissão, pra sondar seu real significado e importância, cada um foge pro seu lado. Todos ficam presos ao seu mundo de trabalho, às suas razões que servem de guia no dia-a-dia e não se abrem a novas idéias, não se questionam se o que fazem é realmente ético (“Eu trabalho lá, é claro que minha empresa é ética!”) e não ficam frustrados em falar que seu cargo na empresa X é “Assessor de Comunicação” ou “Assessor de Marketing” ou “Gerente de Comunicação” ou “Assistente de Propaganda” e muitos outros ous que não ajudam a fortalecer a categoria e a atividade, que, aliás, é RELAÇÕES PÚBLICAS!
Se a própria categoria não se garante, o que será de concordar nas reais áreas de RP?
E essa discordância (ou uma concordância generalizada e superficial) é fácil de se encontrar em muitos TCCs (salvo umas boas grandes pesquisas), onde o RP sempre salva o mundo. Em qualquer lugar onde haja um problema, chame um RP! Ele e suas estratégias de comunicação vão fazer seu negócio bombar! É como se todos os problemas se resumissem à comunicação. Isso é não enxergar o “todo”, não enxergar o processo de construção de identidade em qualquer instituição. E disso decorre um endeusamento maníaco da profissão. Muitos estudantes (e eu me incluo nisso) acreditam que estão fazendo o melhor curso do mundo, pois, afinal, o RP sempre dá um jeito em tudo, ele é o grande solucionador. Na na ni na não! Esse RP herói é conseqüência de uma não essência da profissão. Todo mundo faz RP e cada um faz do seu jeito, cada um acha uma coisa e ponto final, e assim tudo passa.
Ontem, tive o privilégio de presenciar em uma palestra no I ERERP – Encontro Regional de Estudantes de Relações Públicas, uma das componentes da mesa dizer: “A diferença está na construção”. Exatamente! Bingo!
Pensando isso na formação, você pode obter sua graduação na Unesp ou na Fafofipa, você vai ter o título de RP do mesmo jeito. A diferença é o caminho percorrido até a conclusão da sua formação.
Discutir as diferenças de faculdades públicas e particulares não é tarefa tão simples. Vale lembrar o papel da universidade pública na sociedade, o papel do governo, o papel do homem como cidadão e uma pancada de papéis mais. É claro que cada ser humano vai decidir a área em que deseja atuar, afinal, ele não é o sujeito de sua própria história? Entretanto, o ponto crítico é esse “sujeito” não se esquecer de que está inserido em uma sociedade e que é parte dela, que a constrói ao mesmo tempo em que é construído por ela. E aí, é óbvio, que sua atuação faz toda a diferença pro seu entorno social. Você passou no vestibular a duras penas e agora quer gozar da faculdade e ganhar uma bolada de dinheiro em uma multinacional? Ótimo! Só não se esqueça de três perguntinhas básicas: quem paga a sua conta?; quem fala pra quem nessa organização? e como ela afeta a comunidade e você?
E quando se fala em responsabilidade social? Ahh! Socorro! Pra mim as coisas são simples. São três pontos distintos que se confundem entre as discussões: 1-o papel do homem como cidadão, como ser que participa e contribui; 2-o estudante de universidade pública, que pela construção histórica da própria universidade, é encaminhado a desenvolver pesquisas que, de algum modo, contribuam para a sociedade (mesmo que seja pesquisar o quanto um comercial de cerveja ou uma marca qualquer influenciam as pessoas) e 3-o Relações Públicas que, dentre as áreas de atuação, e com seu papel ético, realiza, constrói e pesquisa atividades de responsabilidade social e não de assistência social. Mas eu deixo toda essa discussão para uma próxima postagem...
E, por amor às rugas dos bons teóricos, teoria e prática andam juntas! A famosa “teoria” é, no limite, refletir sobre sua atuação, questionar o seu por quê, buscar embasamento pra atividade e não se debruçar sobre “O Capital” (em alemão!) e ler até criar barba feito o Marx! A regra é fácil: não vale reproduzir. E, sim, produzir. Mesmo que a produção seja um emaranhado de outras produções. (Eu não acredito em imparcialidade mesmo...) A regra é: pense sempre! Aliás, o estudante está na universidade pra aprender a pensar e muitos demoram pra descobrir isso ou nunca descobrem. Como ouvi uma vez: “a universidade é o momento de você experimentar, testar, questionar o seu conhecimento (boa!), pois no mercado ninguém tem tempo pra isso”.
Sinceramente? Parodiando o velho Vanderbild, “o mercado que se dane!” Tá, vou deixar a revolta de lado. Mas que fique claro que quem faz o mercado são as pessoas! (Salvo o poder das verdinha$$$) Atrás das grandes empresas e corporações existem pessoas. Sim, de carne e osso! Como eu e você! Lindo isso.
Ufa!
Reclamei, reclamei e reclamei. Você discorda? Acha que eu só falei abobrinha? Perfeito! Essa é a idéia! Eu apenas contei a minha leitura das Relações Públicas e seus contornos. Agora conta a sua! O conhecimento se constrói na dúvida e não nas certezas, vamos construí-lo então!
E, por hoje, chega.
Obs: E que fique certo que o meu “Cansei” é completamente diferente do Movimento Cansei da Praça da Sé. Eu, de verdade, tenho pequenos motivos pra estar cansada.
Thais R. Marin